03 07 2012
Conheci o Maurício Pereira em novembro de 2000, quando o convidei para compor a trilha de um documentário que eu havia produzido. Liguei, deixei recado, ele ligou de volta: "Alô, Max? Aqui é o Maurício, tudo bom?". Mais ou menos assim: um mano-brejeiro-zen. Então o levei à produtora para assi
03 07 2012
Flávio Monteiro - Sobre os relançamentos do Mergulhar na surpresa e dos dois álbuns dos Mulheres Negras, mudou alguma coisa em relação aos originais?
Maurício Pereira - Não, são igualzinhos. Deixa eu ver... Sobre o Mergulhar, depois até pensei, tinha um material pirata que eu poderia
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Max Eluard - Mas voltando ao Mergulhar, você disse que o conceito do disco está vivo e novo ainda. Mas que conceito é esse?
Pereira - É gozado você me perguntar isso numa hora em que estou compondo. Pô! Fazia 5 anos que eu não sentava para compor. Não sei se vou fazer um disco para o m
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Monteiro - Pelo que a gente percebe, a música te alimenta. Compor é uma necessidade?
Pereira - Me alimenta e me sufoca, porque se eu fosse dono de um boteco em Pindorama eu também estaria bem.
Monteiro - Música serve para quê, afinal? Você acredita em música como instrumento de mudanç
03 07 2012
Monteiro - Eu estava num show da Ná Ozzetti [n.e. Show, homônimo ao disco lançado pela Som Livre em 2001, com repertório centrado em sambas-canções clássicos] em que ela cantava aquelas músicas extremamente poéticas que dão vontade de chorar. Mas essas canções foram feitas na década
03 07 2012
Monteiro - Você participou da remasterização dos CDs dos Mulheres...
Pereira - Mas só ouvi as masters. Não parei para ouvi-los em casa num som normal.
Monteiro - Nos discos dos Mulheres, você diz "Pô, isso poderia ser feito hoje que ainda seria moderno". Você tem essa consciência de
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Monteiro - Existe uma pesquisa de som antes das regravações que você faz? Na hora de compor o seu material, essas músicas vão ao encontro dessas necessidades pessoais?
Pereira - Senti isso no Fanzine e cantando no Supremo só música dos outros. Se viajar, pirar, você não precisa mais c
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Dafne Sampaio - Quando você fez "Música serve pra isso" você acreditava que a tecnologia poderia dar paz de espírito?
Pereira - Não, essa música eu fiz sem usar o cérebro. Eu tinha um método de compor e depois nunca mais consegui fazer. Foi uma época em que o Mulheres ganhou uma grana
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Max Eluard - Além dessa agonia que está entrando no disco novo, existe essa história da busca desesperada pelo som paulistano. Você já pensou sobre ele? De onde ele vem? Onde ele se forma? A grande característica de São Paulo é essa heterogeneidade maluca. E como é esse som paulistano,
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Sampaio - Falando em São Paulo, tem uma coisa nebulosa na minha memória. Eu já conhecia Os Mulheres Negras e aí vi uma minissérie na Globo, no final dos 80, Sampa. Foram vocês que fizeram a trilha sonora, não? E no Música serve pra isso tem "A lavadeira, o varal e a saudade" que fez part
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Max Eluard - Agora, voltando para sua história cronológica. Vamos partir da faculdade.
Pereira - Fiz faculdade sem querer. Era um "geninho". Prestei vestibular com 16 anos. Na verdade, eu não ia prestar porque iria para um desses intercâmbios no exterior. Família de classe média tinha is
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Max Eluard - Você se formou e foi logo trabalhar com Jornalismo?
Pereira - Puta, eu dei azar de passar no vestibular, dei azar de me apaixonar, dei azar de no dia seguinte de terminar a faculdade - terminei no dia 30 de novembro e em 1º de dezembro arranjei um emprego [risos]. Vejam vocês,
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Monteiro - Até então não tinha nada de música, só rádio?
Pereira - Bom, fiz um livro... sabe livro de mimeógrafo? Fiz um livro de poesia. [risos]
Max Eluard - Vendeu ali debaixo do MASP! [risos]
Pereira - Vendi metade da tiragem na fila da Bienal do Livro . E fui para Salvador no Enc
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Monteiro - Sei que vou interromper um pouquinho essa trajetória, mas você estava falando da banalidade da música dos anos 90 e coincidentemente...
Pereira - Só um parêntese: não sei se é banal, tem muita música sem sagrado, mas eu não sei se é banal.
Monteiro - ... É claro que tamb
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Tacioli - Maurício, você estava falando da descoberta dos Mulheres, né?! Só para retomar a linha cronológica.
Pereira - Rolou tudo muito depressa. Tipo, tocamos na festa no meio do ano, e depois fizemos uma grande temporada, maravilhosa, no Pedaço do Bexiga. Vocês conhecem esse boteco?
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Max Eluard - Que saída você vê para a produção de disco independente?
Pereira - Boa pergunta. Estamos num mundo fragmentado. Acho que temos que tocar no nosso bairro. São Paulo hoje, com essa prefeitura nova, da Marta, tem um approuch de cultura interessante, que não está estruturado a
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Max Eluard - O que é o show para você? Você tem um disco, você faz o show do disco?
Pereira - Falei que não gosto de registrar muito, né? Tenho cabeça de amador. Basicamente para um amador como eu, só o show é legal. Mas hoje não tenho saco de ir a show, só de ouvir disco. Porque o
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Almeida - Maurício, você não pensa em fazer uma letra e dar para um outro cara musicar, ou o contrário, pedir uma letra para você musicar?
Pereira - Tirando o André e o Skowa, eu tinha pouca experiência disso. Fiz com o Szafran e tinha uma parceria com o Dino Vicente, mas é raro. Nesse
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Tacioli - Maurício, você citou diversas vezes o futebol, jogos e jogadores. Enfim, qual é a sua relação com o futebol?
Almeida - Ou se essa obsessão por futebol é uma frustração?
Pereira - Olhando para trás, eu deveria ter sido jogador. Eu deveria ter sido um monte de coisa em vez
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Tacioli - Maurício, o que você tem ouvido?
Monteiro - Você consegue identificar algum grupo de rap que você ouviu recentemente?
Pereira - Nas rádios eles não falam, mas tenho gostado de um cara que é o NDee Naldinho. Sabe quem é esse cara? "O 5º vigia" é a música de sucesso dele.